Este é só um desabafo do que pensei durante anteontem e ontem. Nada tem a ver com o blog. Nem leia se não estiver a fim.
Na manhã desta terça-feira em São Paulo ocorreu uma pane na linha vermelha do metrô, algo que nenhum ser vivo espera acontecer. Não espera porque nunca esperamos que algo aconteça fora do nosso cotidiano, da obviedade do dia-a-dia, do esquema padrão ao qual estamos acostumados.
O desligamento que ocorreu nada tem de bom no sentido prático da coisa: atrasou a vida de todo trabalhador que depende da linha subterrânea para chegar ao serviço, de todo estudante que precisa chegar na faculdade ou na escola, de todos que precisavam chegar a algum lugar específico em um determinado horário mas foi impedido em razão de um problema "desconhecido" desenrolado por algum outro desconhecido. Particularmente também sofri com esse problema, mesmo que num horário menos movimentado. (Cheguei ao trabalho bem espremidinha, cheirando a perfume barato de outras pessoas, hahaha. Enfim...)
Entretanto, por que tanto rebuliço com uma coisa que aparentemente só fez o seu dia ser... mais marcante? Não é verdade que as pessoas reclamam que os dias passam rapidamente e ninguém se lembra do que comeu no café da manhã? Bom, certamente desse dia muita gente se lembrará por um bom tempo. Se lembrará de como foi sofrido conseguir chegar ao trabalho e (essa é a parte mais importante) de quanto ficamos automatizados nas tarefas diárias do dia-a-dia do cotidiano.
Oras, afinal, qual o motivo de toda essa correria? Reclamar para acordar cedo, levantar, tomar café correndo, ir trabalhar, chegar atrasado, trampar igual um condenado, voltar para casa, jantar, dormir, acordar.... Qual o objetivo de tudo isso? Dinheiro? Dinheiro para poder gastar? Dinheiro para poder gastar com obrigação social? Bom, independentemente do seu "objetivo pessoal" com tudo isso, estamos fatalmente fadados a um não-objetivo muito maior que nos engloba e que nem ao mesmo paramos para ter uma leve noção do que estamos fazendo. Que objetivo é (ou nao é) esse? Sei lá, eu também não sei; só sei que o dia-a-dia nos contagia com a ideia de que precisamos trabalhar para cumprir com nossa tarefa social e não ficar de fora do mundo; para ser alguém no mundo. Oras, é o que eu faço que me define no mundo? Aliás, preciso ser alguém no mundo? Não posso ser só alguém para mim mesma? Ou simplesmente ser alguém? Ou então somente ser? Ou até mesmo... não ser? (argh, viajei...)
A quantidade de coisas às quais nos obrigamos a fazer, por qualquer motivo que seja, necessariamente acabam nos automatizando e nos fazendo aceitar a ideia de que, se sairmos dessa rotina, será algo ruim. Ou seja, atrasar para chegar no serviço ou não conseguir tomar o café da manhã direito porque alguma coisa DIFERENTE DO CONVENCIONAL interferiu minha rotina, quebrou meu roteiro diário, destruiu a trilha que eu sempre construo e sigo todas as manhãs, é ruim. Oh! E agora?!
Oras, você é uma formiguinha operária que perde os sentidos quando alguém lhe tira o rastro da frente? Você se perde porque perdeu o referencial? Que tipo de referencial você toma na sua vida? As formigas têm o seu valor, extremamente eficientes e esforçadas que são. Trabalho é a vida delas. Se sairem da rotina, não sabem o que fazer. E você, é assim também?
Não vejo problemas em pessoas que acham que viver a vida assim é a maneira correta de se viver e, com isso, evitar problemas. Nascer, crescer, aprender, estudar, trabalhar, juntar dinheiro, casar, ter filhos, ganhar aposentadoria, ter segurança... Um ciclo de vida que parece ser o ideal para viver tranquilo e sem problemas. Bom, não sei, acho que não é bem o que quero para mim. Parece-me um pouco frustrante pensar que essa é a maneira "correta" de se viver.
Voltando ao assunto do metrô... compreende-se que pessoas tenham ficado putas da vida com o que aconteceu, e que tinham que passar por isso. Ninguém quer passar por isso logicamente! Então é compreensível o nervosismo e a raiva que assume lugar no momento de tensão. Quebrar as janelas, sair de qualquer maneira, é compreensível também para conseguir respirar. Eu faria o mesmo. Contudo, uma coisa que me encuca é as pessoas se irritarem tanto com o fato de não conseguirem chegar ao trabalho porque o metrô parou. Oras, isso todo mundo vai compreender porque não é sua culpa. Agora, é engraçado pensar "que diferença fará ficar nervosão, xingar meio mundo, destruir janelas e portas do transporte público, se machucar... e de qualquer maneira não chegar no trabalho a tempo?". Logicamente é inaceitável que um problema no sistema de metrô tenha que atingir tantas pessoas, tantas manhãs de trabalho e estudo perdidas. Mas não sei se chega a ser motivo bastante para precisar gastar energia se você pode simplesmente parar, pensar e escolher pegar um busão ou um táxi, ou ligar pro trampo e falar que não vai ou então esperar o metrô começar a funcionar novamente.
Aceitar mudanças é sempre algo difícil para as pessoas, ainda mais quando são mudanças bruscas e com causas exteriores (ou seja, que não fomos nós que escolhemos). No caso do metrô, foi um evento que mudou a manhã de uma puta galera trabalhadora. E aqui aponto duas coisas que podem ser importantes:
- dar valor ao que passa despercebido todos os dias, porque você só percebe quando aquilo não está mais lá;
- perceber que sua automatização diária te cega e te faz perder o rumo, apesar de você achar que está tomando um.
Peço desculpas pelo post chato, foi só um desabafo para poder organizar minhas ideias. Mas obrigada a quem leu! :)